Notas de imprensa

Rui Eduardo Paes “Ponto de escuta” 27.08.2018
A promoção do Free Pantone Trio, grupo português formado por Manuel Guimarães (piano), Rui Sousa (baixo eléctrico) e João Valinho (bateria), apresenta o projecto como uma «trans-idiomatic experience», mas se na verdade a música que escutamos neste disco de estreia incorpora aspectos de vários idiomas musicais (os da música contemporânea, sobretudo por parte do pianista, e do rock, por via do baixista, que em tempos se dedicou a interpretar / converter Frank Zappa), algo que desde logo se evidencia nos temas de “A Blink of an Eye to the Nature of Things” é a filiação jazzística. As estratégias são as da música improvisada, mas a matriz está indubitavelmente no jazz. Ainda assim, não são as coordenadas do “piano jazz trio” que aqui encontramos: muito simplesmente, a formação não aceita a organização hierárquica que vem com esse modelo, preferindo a igualdade e a autonomia dos papéis instrumentais, na decorrência dos jogos harmolódicos propostos por Ornette Coleman.
A influência deste fica-se por aí e também não é pelo facto de estarmos em presença de uma guitarra baixo, e não do habitual (no jazz) contrabaixo, que há alguma ascendência de um Steve Swallow, a principal referência quando nos deparamos com uma situação do género. Felizmente, coisa que se evita neste disco é a aplicação de estereótipos. Sousa e Valinho estão muito bem neste “debut”, mas o que mais nos encanta é o trabalho desenvolvido por Guimarães. Sempre com uma abordagem livre, congregada sobre a herança do free jazz, o que lhe ouvimos tem mais conexões com Paul Bley do que com Cecil Taylor, o que não é, de todo, habitual no presente cenário. O lirismo e a delicadeza das suas construções pianísticas coexistem com um sentido muito rítmico e até percussivo, surgindo este com peso, conta e medida, se bem que de um modo muito natural. E sim, decisivamente contribuindo para o imenso catálogo de cores pantone que a música nos vai dando.

A Blink of an Eye to the Nature of Things Free Pantone Trio : Manuel Guimaraes Rui Sousa Joao Valinho + Noel Taylor (deux plages) FMR.
Publié par Jean-Michel Van Schouwburg (Orinx improv’ and Sound blog) 4.10.2018.
Association libre d’un pianiste, Manuel Guimaraes, d’un bassiste, Rui Sousa et d’un batteur, João Valinho, tous trois Lisboètes. Présence fluide d’un clarinettiste, Noel Taylor. Un canevas imaginaire sert de fil conducteur à des improvisations mélodiques collectives élaborées en rythmes libres. Le batteur manie ses fûts et cymbales avec une belle sensibilité, le pianiste marie secrètement les tonalités, le bassiste électrique alterne les registres. Le matériau tournoie d’une main à l’autre, notes et cadences se partageant et s’échangeant d’une main à l’autre. Le souffle ductile du clarinettiste Noel Taylor vient se loger avec goût dans leurs évolutions durant deux plages. Suivant leurs notes de pochette, le trio décrit sa musique comme une expérience trans-idiomatique avec un caractère expérimental cherchant à explorer quelques approches musicales et des sub-genres depuis le free-jazz jusqu’au classique contemporain. L’improvisation est le vecteur de communication qui les unifie, utilisant le background (substrat) d’écoute actif et passif en suivant et en générant des notes avec un sens unique et aggrégeant pour que se déroule une forme de composition spontanée en temps réel. Tout est ici entièrement improvisé et sans overdub. Le groupe navigue avec talent à la limite du jazz libre contemporain en se concentrant sur l’écoute mutuelle sans franchir celle du domaine « non-idiomatique » de l’improvisation libre radicale. On explore essentiellement les notes et leur relations polytonales laissant de côté l’aspect sonore, timbres et textures. Par exemple, le batteur adapte avec souplesse des figures récurrentes qu’il désagrège avec naturel. Musicalement, les trois membres du Free Pantone Trio n’ont pas spécialement un style personnel distinctif original particulier, mais leur savoir-faire musical et instrumental indiscutable, la lisibilité équilibrée de leurs propos créent un style collectif de conversation à trois spécifique, celui du Free Pantone Trio. L’avant-dernière improvisation est une belle conclusion énergique et volatile des précédentes explorations. Le dernier morceau, spiralé sur un ostinato accomplit une belle lévitation et s’étale en questions réponses suivies d’échappées. Cette musique fluide, aérienne, basée sur l’écoute, ravira un public sensible qui veut découvrir la musique libre, sans référence ni parti-pris, car celle-ci est bien rendue avec talent et évite l’excès de virtuosité pour exprimer une réelle émotion. La seule remarque, et elle se veut positive, on entend ici que la guitare basse électrique n’est pas un instrument aisé quand il est mis en avant en respectant l’éthique musicale de ce trio. La musique improvisée est en permanence faite de choix dans l’instant, lequel se renouvelle au point d’user le parcours musical, l’art de l’improvisateur le pousse à maintenir le processus en vie et à le transcender. C’est ce qu’essaie de faire ici le Free Pantone Trio avec une concentration palpable.

FREE PANTONE TRIO «a blink of an eye to the nature of things»
FMR RECORDS, FMR496-0618 (Salt Peanuts*) por : Eyal Hareuveni 14.11.2018

The Portuguese , Lisbon-based Free Pantone trio defines itself as a «trans-idiomatic and experimental» unit, exploring different schools and sub-genres of modern jazz and contemporary music through improvisation. The trio features electric bass player-educator Rui Sousa, who led a homage band to Frank Zappa called Zappanoia, pianist Manuel Guimarães, also a guitarist interested in folk and rock, and drummer-percussionist João Valinho, who collaborates with other local free-improvisers as viola player Ernesto Rodrigues and cellist Miguel Mira. «a blink of an eye to the nature of things», the debut album of the trio features British clarinet player Noel Taylor, who recently relocated to Lisbon.

Free Pantone focus on each piece on different aspects of free improvisation. The trio feels at home when it explores muscular territories that flirts with elements of fusion and rock on «Pantone A», «Pantone D» and «Pantone E». But Free Pantone also investigates quiet and abstract soundscape on «Pantone B» and enjoys sketching a playful and powerful melodic interplay on «Pantone C». Surprisingly, the addition of Taylor on «Everything» and «Evaporates» shifts the trio dynamics and suggests a more delicate and complex equilibrium. Taylor presence emphasizes the distinct voices, allows Free Pantone dynamics to incorporate few, different dynamics to the same piece and assists in expanding the sonic palette of the trio towards lyrical and emotional expressions.

Manuel Guimarães (p), Rui Sousa (b), João Valinho (dr), Noel Taylor (cl)

FREE PANTONE TRIO «a blink of an eye to the nature of things»
FMR RECORDS, FMR496-0618 (bodyspace.net*) por : Nuno Catarino 21.11.2018
Experiência trans-idiomática.

O Free Pantone Trio é um projecto musical que junta três músicos portugueses: o baixista Rui Sousa, mentor dos Zappanoia (projecto dedicado à música de Frank Zappa) que ultimamente tem explorado a improvisação livre e participa regularmente no festival MIA – Encontro de Música Improvisada de Atouguia da Baleia; o pianista Manuel Guimarães, também guitarrista, ligado aos universos rock e folk, membro do recente grupo The Metaphysical Angels de Vítor Rua e que publicou em 2016 o disco solo “Flow Me” (edição Creative Sources); e João Valinho, percussionista que integra diversas formações ad-hoc, tem colaborado com improvisadores como Ernesto Rodrigues e Miguel Mira e participou na segunda edição do Ciclo Jovens Improvisadores (num quarteto com João Silva, Philippe Trovão e André Hencleeday).

O trio apresenta-se ao mundo com este disco de estreia, “A Blink of an Eye to the Nature of Things”, onde conta com a colaboração, em dois temas, de Noel Taylor, clarinetista inglês que se mudou recentemente para Lisboa e tem tocado com alguns músicos nacionais. O trio auto-define a sua música como uma “experiência musical trans-idiomática”, ou seja, uma proposta sonora que atravessa diversos idiomas musicais, sem se fixar em nenhum. Assumidamente experimental, esta música parte da improvisação pura, para integrar elementos do jazz e da música contemporânea.

Partindo dessa folha em branco, o trio (e pontualmente quarteto) desenvolve a estrutura de cada tema a partir das sugestões individuais, numa estratégia de articulação e diálogo. O grupo conecta as vozes instrumentais sem atropelos, daqui resultando uma música rica de ideias. Piano, baixo e percussão encadeiam sons num processo de permanente escuta atenta, acção e reação. E a música evolui graciosamente. O grupo assume a definição “trans-idiomática”, neste disco ouvimos improvisação livre, elementos de jazz e música de câmara, atravessando diversos universos sonoros. Uma música líquida nunca se deixa apanhar.